quarta-feira, 3 de julho de 2019

Espécies paleoautóctones (7): Pterocarya



Uma das famílias de árvores que mais sofreu com os efeitos das glaciações quaternárias no continente europeu é, sem dúvida, a das Juglandacea. Embora uma espécie - a nogueira - tenha conseguido sobreviver nas penínsulas do sul e outra - a que estamos tratando neste artigo - esteja presente apenas no Cáucaso, na periferia do continente. Esta família tinha uma rica diversidade de espécies antes da idade do gelo com géneros como Juglans, Carya, Pterocarya, Engelhardia, Platycarya, Cyclocarya, etc. Muitos desses géneros só sobreviveram mais tarde no SE da Ásia e na América do Norte, desaparecendo completamente do continente europeu. As espécies mais termofílicas desapareceram (no final do Plioceno), com apenas os dois géneros atualmente presentes (Juglans, Pterocarya) e o género Carya remanescentes no nosso continente, sobreviveram na Península Ibérica até ao meio do Pleistoceno e até muito mais recentemente na Anatólia.



A Pterocaria Europeia é uma espécie presente no W do Mar Negro, no Cáucaso e no N do Irão, com algumas populações dispersas e isoladas na Anatólia e noutros pontos mais meridionais do Irão. É uma espécie termofila com alta demanda de humidade, sendo as matas ribeirinhas o seu habitat natural. Como se pode ver no mapa abaixo, a Pterocaria caucasiana era uma espécie disseminada por todo o continente europeu no início do Quaternário (Pleistoceno Inferior). Também foi muito abundante, sendo em muitos lugares a espécie dominante no espectro polínico.




Embora esta espécie tenha sido considerada extinta na Península Ibérica desde o Pleistoceno Médio, o registro lacustre da lagoa de El Cañizar, analisado por Eduardo García-Prieto Fronce (1), mostrou que esta espécie sobreviveu no E da Península Ibérica até o último período interglacial (Eemiense), possivelmente até há 67.000 anos atrás. O aquecimento sofrido por boa parte do continente europeu há várias décadas favorece, hoje, com clareza, esta espécie que já se naturalizou nalgumas regiões onde por cruel paradoxo do destino é considerada como invasiva.

Pterocarya fraxinifoliaFamilia: JuglandaceaeOrdem: Fagales

Árvore de até 35 m, de crescimento rápido, de copa larga e arredondada, com casca profundamente fissurada. Folhas de formato algo estranho que podem exceder 60 cm de comprimento, com 11-20 pares de folhas sésseis, fortemente serrilhadas, com cerca de 50 a 65 dentes de cada lado, pontiagudas, com cerca de 5 a 10 cm. Fruto com cerca de 1,8 cm de largura, com asas semi-orbiculares.

Pterocarya:

Árvores monóicas, muitas vezes com pequenas glândulas de pêlo, com resina, de cor amarelo pálido - que, quando secas, adquirem a aparência de escamas. Galhos de medula perfurada. Gomos terminais estipulados, geralmente nus, raramente com 2-4 catafilas, prontamente expirados. Folhas decíduas, iguais ou imparapinadas - pelo desaparecimento do folhíolo terminal; folhíolos 5-21 (-25), margem serrilhada, com pêlos simples ou fasciculados, e glândulas, ou sem, às vezes glabras, ± sentadas ou com pecíolos muito curtos; Rachis alados ou apteros. Inflorescência masculina em cacho, solitária ou em grupos de 3-5, lateral ou terminal, pêndulo. Inflorescência feminina em amentilhos, mais de 10 flores, isoladamente ou em grupos 2-5 em panícula, terminal, frutificação pendular. Flores masculinas de bráctea soldadas ao receptáculo, exceto no ápice, e este, pequeno, ovalado ou lanceolado e inteiro; bráctea 2, soldada ao receptáculo e às sépalas, de modo que no conjunto há 3-6 ± lobos desiguais; sépalas (1-2) -3 (4); estames 5-31; anteras glabras ou peludas. Flores de bráctea femininas soldadas na base ao receptáculo, pequenas, inteiras, não increscentes; brácteas 2, quase livres no lado abaxial e ± soldadas no lado adaxial, acres; sépalas 4, soldados ao receptáculo em grande parte de seu comprimento; carpelos 2 - raramente em algumas flores 3-; estilo normalmente com 2 ramos estilares, recurvadas, com a área estigmática para dentro. Fruta samaroide; noz com 2 ou 4 lóculos na base, de parede ± dura; Asas 1, completas e ± circulares, ou 2, laterais e semicirculares a ± lineares - em qualquer caso, provêm principalmente das bractéolas. Semente de cotilédone com 2 lóbulos pequenos cada.


Navarro C. & Muñoz Garmendia F. / in: Castroviejo & al. (eds.), Flora iberica vol. 9 / http://www.floraiberica.org / Licencia: Creative Commons


É uma espécie relativamente pouco cultivada. A maioria das pterocarias cultivadas no nosso país pertence às espécies orientais (P. stenoptera) ou ao híbrido de ambas (P. x rhederiana). De acordo com o catálogo publicado pela Câmara Municipal de Madrid, 347 exemplares dessa espécie foram plantados no projeto Río de Madrid, mas não tenho a certeza se realmente correspondem a essa espécie (deverá ser verificada in situ). O seu cultivo não parece envolver muitas dificuldades. A região de onde se origina tem um clima do tipo sub-mediterrânico muito semelhante ao nosso e se as necessidades de água desta espécie forem satisfeitas, deverá prosperar sem muita dificuldade. A sua propagação por sementes não parece muito problemática. Sem nenhum tratamento prévio (exceto para preservar as sementes no terraço), consegui germinar três sementes e tenho grandes esperanças de alcançar o desenvolvimento dos espécimes obtidos...





(1) Eduardo García-Prieto Fronce (2015) / Dinámica Paleoambiental durante los últimos 135.000 años en el Alto Jiloca: el registro lacustre de El Cañizar / Tésis Doctoral, Universidad de Zaragoza


Autor: Adrián Rodríguez
Tradução: João Ferro


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