sexta-feira, 22 de março de 2019

Espécies paleoautóctones (2): Nyssa



Folhas de Nyssa sylvatica no outono.



Pouco conhecidos e ainda pouco utilizados no nosso país (Espanha), os tupelos (Nyssa), são árvores de folha caduca que são altamente valorizadas em outros países pelas suas magníficas cores outonais. Existem atualmente 8 espécies reconhecidas neste género, todas com requisitos de água bastante elevados. Os mais comumente cultivados e com a maior área de distribuição (N. sylvatica y N. sinensis) são típicos de florestas úmidas e ribeirinhas. Outras, como N. aquatica, N. biflora ou N. ogeche (todas norte americanas), estão adaptadas para viver em áreas pantanosas e têm uma base ampla muito típica das árvores que crescem nesse tipo de ambiente, como o cipreste dos pântanos (Taxodium distichum) onde convivem em muitos lugares. No nosso país (Espanha) ainda é raro vê-los, embora já seja possível obter N. sylvatica em alguns viveiros.



As flores dos tupelos são pouco chamativas. Estas pertencem a N. sylvatica. / Fotografía: Using georgia native Plants



O género Nyssa é um outro exemplo de taxon com uma área de distribuição disjunta ao nível continental, com 5 espécies no Este da América do Norte e mais 3 no Este da Ásia. O género, como era de se esperar, também estava presente no continente europeu antes da era glacial, onde diferentes espécies fósseis mais ou menos relacionadas às espécies atuais foram descritas. Tal como se pode observar no mapa, as citações mais recentes vêm da bacia Mediterrânica (Pleistoceno Médio) e da região do Mar Cáspio, onde parecem ter sobrevivido até ao último período interglacial (Eemiense) no delta do rio Emba. Faltou-lhes realmente muito pouco para sobreviver no nosso continente.




Junto a outros pequenos géneros (Camptotheca, Davidia, Diplopanax, Mastixia), este género constitui a pequena família das Nyssaceae, relacionados com a família das Cornáceas, em que ainda estavam incluídas na classificação APG III. As Nisáceas, como boa parte dos Cornales, ainda apresentam características primitivas como, por exemplo, as pétalas livres e o porte arbóreo, que também podem ser observados na ordem vizinha dos Ericales, por exemplo.

NyssaFamilia: NyssaceaeOrdem: Cornales

Árvores dioicas ou funcionalmente dioicas (com flores unisexuais ou hermafroditas nas quais os estames não chegam a amadurecer). Casca cinzento acastanhada, rugosa e com nervuras. Folhas muitas vezes agrupadas na ponta dos ramos, alternadas, sem estípulas; pecíolo de seção circular ou alada; limbo geralmente elíptico a oblongo-lanceolado ou oblongo, raramente ovado, Com base cuneiforme a arredondada. Flores geralmente agrupadas em cabeças ou cachos curtos, na axila de uma bráctea com 2 brácteas. Sépalas soldadas entre si, formando um pequeno aro; Pétalas livres, esverdeadas a brancas esverdeadas. Flores masculinas pediceladas. Estames 10, dispostos em duas voltas, filamentos lineares, anteras biloculares, encosto fixo, que se abrem por fendas longitudinais laterais. Disco nectarífero intrastaminal, pulvinado. Flores femininas (4)5-meras, não pediceladas, estaminódios geralmente presentes. Ovário baixo, 1(2)-locular, 1-ovulado; estilo subulado ou cónico, bífido, com tecido estigmático na parte interior dos braços estilares. Fruto drupáceo, ± aplanado lateralmente, com disco e cálices persitentes, de cor negro-azulada, às vezes purpúreo avermelhado, amarelo, alaranjado ou roxo. Mesocarpo suculento, ácido. n = 22.


A única espécie que é ocasionalmente cultivada na Península Ibérica é Nyssa sylvatica que, no entanto, é sensível à geada quando jovem e difícil de transplantar. Isso faz com que seja relativamente rara e que se tenha de ir a arboretos ou jardins botânicos para observá-la.



Frutos de Nyssa sylvatica / Fotografía: Great Plains Nursery


Autor: Adrián Rodríguez
Tradução: João Ferro


sábado, 16 de março de 2019

Espécies paleoautóctones (1): Carpinus



Folhas e inflorescências de carpa branca (Carpinus betulus).



Se uma espécie merece, mais que qualquier outra, o apelativo de "paleoautóctone", seja qual seja o sentido que se queira dar a esse neologismo, essa é sem lugar para dúvidas o cárpino ou carpa (Carpinus betulus). Esta espécie ainda está presente de forma reliquial, no vale do Bidasoa (Espanha), mas teve no passado recente uma área de distribuição muito mais extensa na Península Ibérica. E não é necessário retroceder muito no tempo ou no passado para encontrar marcas da sua presença. Em boa parte do norte peninsular e da faixa atlântica, a sua presença foi confirmada durante o ótimo climático do Holoceno, época em que chegou a alcançar o Sistema Central Ibérico [1]. As suas localidades atuais são pois, os últimos testemunhos de una presença muito mais ampla. Caberia pois perguntar-se porque desapareceu de boa parte das localidades que chegou a alcançar naquela época. As explicações mais prováveis de tal retrocesso são o progressivo aumento da estacionalidade depois desse ótimo climático alcançado entre 9000 e 5000 anos antes do presente e o início da exploração agrícola das terras que eram mais favoráveis a esta espécie.



O cárpino branco é uma espécie muito exigente, com exigências de água e solo que não são frequentemente encontradas na Península hoje. Não é uma espécie que tolere a seca e desenvolve-se preferencialmente em solos ricos e profundos que geralmente são o que normalmente encontramos em áreas de planície. É, por outro lado, uma espécie que suporta o calor muito bem, sendo perfeitamente capaz, se for irrigada, de suportar os implacáveis verões do centro da Península. Alguns exemplares plantados no meu bairro (Madri) já medem cerca de 4 a 6 metros, florescem e dão frutos a cada ano, suportando sem muitos problemas os 40 graus que são atingidos em julho e agosto. Quanto muito, parte das folhas secam, mas isso não põe em perigo a sobrevivência dessas árvores.


Mapas da distribuição atual do cárpino branco (C. betulus) e do cárpino oriental (C. orientalis) [2].



Em tempos anteriores à última era glacial, o cárpino esteve presente em boa parte da Península, há que destacar também a presença no final dos princípios do Plioceno e do Pleistoceno do cárpino oriental, hoje presente apenas no Este do continente e da bacia mediterrânica o que também deve ser notado. O cárpino oriental não é uma espécie vicária. Trata-se de um cárpino melhor adaptado à seca que C. betulus, o que o converte, na Europa Oriental num elemento típico da vegetação sub-mediterrânica, convivendo lá com espécies como o carvalho pubescente (Quercus pubescens), o carvalho peludo (Quercus cerris) ou o cárpino negro (Ostrya carpinifolia). Ou seja, que, pela sua ecologia, é bastante diferente do cárpino comum, que é uma espécie de ambiente subatlântico e centro europeu.

CarpinusFamilia: BetulaceaeOrden: Fagales

Árvores ou arbustos. Botões fusiformes e aguçados. Folhas ovais ou ovais-elípticas, agudas, duplamente serradas, com 9 ou mais pares de nervos secundários muito marcados e regulares. Amentilhos sésseis masculinos, solitários; flores nuas, solitárias na axila de cada bráctea, sem órtese; Estames 6-20, pubescentes, de filamentos bífidos, muito curtos. Amentos terminais femininos, relaxados, pendentes na maturidade, com brácteas folhadas; flores geminadas, com perianto; rudimentos seminais 1 (2); estilo dividido em 2 filiformes, ramos verdes. Aquénios dispostos em espigas suspensas, pequenos e comprimidos, envolvidos por um grande invólucro foliácio grande, trilobado ou serrado, com venação acentuada, originado por acréscimo da bractea única.


A destacar também aqui a presença inesperada do cárpino nas Ilhas Canárias até ao final do Holoceno [3] Mais surpreendente talvez, por causa da distância que das condições climáticas. Essa presença não é tão surpreendente, no entanto, sabendo que também estava presente nos maciços montanhosos do Saara em tempos muito mais úmidos do que hoje.





Fruto de Carpinus betulus (topo) comparado com os frutos de Carpinus orientalis (fundo).


O cárpino branco é uma espécie comumente cultivada no nosso país (Espanha), onde surpreende, em muitos lugares, pela sua capacidade de suportar as altas temperaturas de verão. Tal como mencionámos anteriormente, a falta de água parece ser o verdadeiro fator limitante para esta espécie. Por outro lado, surpreendentemente, o cultivo de cárpino oriental não despertou muito interesse no nosso país (Espanha). Sendo esta uma árvore muito menos exigente, é curioso que não tenha sido tentada pelo menos nos nossos parques e jardins. Sendo uma árvore de dimensões relativamente pequenas, que muitas vezes nem sequer passa de arbusto, pode ser entendido que não despertou o interesse dos silvicultores. Seria, no entanto, um elemento a ter em conta para aumentar a biodiversidade das nossas florestas em áreas de clima sub-mediterrânico, em que para além dos sempre eternos Quercus, não abundam muitas frondosas arbóreas.

Plantei algumas sementes de Carpinus orientalis há alguns anos, sem nenhum tratamento e nenhuma delas germinou. No ano passado, no entanto vi duas pequenas árvorezinhas aparecerem nos meus vasos que podem muito bem corresponder a essa espécie ou talvez ao cárpino negro, por enquanto não sou capaz de lhes dar um nome. No próximo ano terei que tentar novamente, já que esta espécie me parece muito interessante para as condições climáticas do nosso país.



Autor: Adrián Rodríguez
Tradução: João Ferro