sábado, 16 de março de 2019

Espécies paleoautóctones (1): Carpinus



Folhas e inflorescências de carpa branca (Carpinus betulus).



Se uma espécie merece, mais que qualquier outra, o apelativo de "paleoautóctone", seja qual seja o sentido que se queira dar a esse neologismo, essa é sem lugar para dúvidas o cárpino ou carpa (Carpinus betulus). Esta espécie ainda está presente de forma reliquial, no vale do Bidasoa (Espanha), mas teve no passado recente uma área de distribuição muito mais extensa na Península Ibérica. E não é necessário retroceder muito no tempo ou no passado para encontrar marcas da sua presença. Em boa parte do norte peninsular e da faixa atlântica, a sua presença foi confirmada durante o ótimo climático do Holoceno, época em que chegou a alcançar o Sistema Central Ibérico [1]. As suas localidades atuais são pois, os últimos testemunhos de una presença muito mais ampla. Caberia pois perguntar-se porque desapareceu de boa parte das localidades que chegou a alcançar naquela época. As explicações mais prováveis de tal retrocesso são o progressivo aumento da estacionalidade depois desse ótimo climático alcançado entre 9000 e 5000 anos antes do presente e o início da exploração agrícola das terras que eram mais favoráveis a esta espécie.



O cárpino branco é uma espécie muito exigente, com exigências de água e solo que não são frequentemente encontradas na Península hoje. Não é uma espécie que tolere a seca e desenvolve-se preferencialmente em solos ricos e profundos que geralmente são o que normalmente encontramos em áreas de planície. É, por outro lado, uma espécie que suporta o calor muito bem, sendo perfeitamente capaz, se for irrigada, de suportar os implacáveis verões do centro da Península. Alguns exemplares plantados no meu bairro (Madri) já medem cerca de 4 a 6 metros, florescem e dão frutos a cada ano, suportando sem muitos problemas os 40 graus que são atingidos em julho e agosto. Quanto muito, parte das folhas secam, mas isso não põe em perigo a sobrevivência dessas árvores.


Mapas da distribuição atual do cárpino branco (C. betulus) e do cárpino oriental (C. orientalis) [2].



Em tempos anteriores à última era glacial, o cárpino esteve presente em boa parte da Península, há que destacar também a presença no final dos princípios do Plioceno e do Pleistoceno do cárpino oriental, hoje presente apenas no Este do continente e da bacia mediterrânica o que também deve ser notado. O cárpino oriental não é uma espécie vicária. Trata-se de um cárpino melhor adaptado à seca que C. betulus, o que o converte, na Europa Oriental num elemento típico da vegetação sub-mediterrânica, convivendo lá com espécies como o carvalho pubescente (Quercus pubescens), o carvalho peludo (Quercus cerris) ou o cárpino negro (Ostrya carpinifolia). Ou seja, que, pela sua ecologia, é bastante diferente do cárpino comum, que é uma espécie de ambiente subatlântico e centro europeu.

CarpinusFamilia: BetulaceaeOrden: Fagales

Árvores ou arbustos. Botões fusiformes e aguçados. Folhas ovais ou ovais-elípticas, agudas, duplamente serradas, com 9 ou mais pares de nervos secundários muito marcados e regulares. Amentilhos sésseis masculinos, solitários; flores nuas, solitárias na axila de cada bráctea, sem órtese; Estames 6-20, pubescentes, de filamentos bífidos, muito curtos. Amentos terminais femininos, relaxados, pendentes na maturidade, com brácteas folhadas; flores geminadas, com perianto; rudimentos seminais 1 (2); estilo dividido em 2 filiformes, ramos verdes. Aquénios dispostos em espigas suspensas, pequenos e comprimidos, envolvidos por um grande invólucro foliácio grande, trilobado ou serrado, com venação acentuada, originado por acréscimo da bractea única.


A destacar também aqui a presença inesperada do cárpino nas Ilhas Canárias até ao final do Holoceno [3] Mais surpreendente talvez, por causa da distância que das condições climáticas. Essa presença não é tão surpreendente, no entanto, sabendo que também estava presente nos maciços montanhosos do Saara em tempos muito mais úmidos do que hoje.





Fruto de Carpinus betulus (topo) comparado com os frutos de Carpinus orientalis (fundo).


O cárpino branco é uma espécie comumente cultivada no nosso país (Espanha), onde surpreende, em muitos lugares, pela sua capacidade de suportar as altas temperaturas de verão. Tal como mencionámos anteriormente, a falta de água parece ser o verdadeiro fator limitante para esta espécie. Por outro lado, surpreendentemente, o cultivo de cárpino oriental não despertou muito interesse no nosso país (Espanha). Sendo esta uma árvore muito menos exigente, é curioso que não tenha sido tentada pelo menos nos nossos parques e jardins. Sendo uma árvore de dimensões relativamente pequenas, que muitas vezes nem sequer passa de arbusto, pode ser entendido que não despertou o interesse dos silvicultores. Seria, no entanto, um elemento a ter em conta para aumentar a biodiversidade das nossas florestas em áreas de clima sub-mediterrânico, em que para além dos sempre eternos Quercus, não abundam muitas frondosas arbóreas.

Plantei algumas sementes de Carpinus orientalis há alguns anos, sem nenhum tratamento e nenhuma delas germinou. No ano passado, no entanto vi duas pequenas árvorezinhas aparecerem nos meus vasos que podem muito bem corresponder a essa espécie ou talvez ao cárpino negro, por enquanto não sou capaz de lhes dar um nome. No próximo ano terei que tentar novamente, já que esta espécie me parece muito interessante para as condições climáticas do nosso país.



Autor: Adrián Rodríguez
Tradução: João Ferro


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